terça-feira, 23 de agosto de 2011

AS BAGAGENS DO MEU TEMPO



Os poetas viajam nas bagagens do pensar. Levitam como folhas ao tempo e aportam nas terras do coração. Como bem expressava Cora Coralina “- Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe; braço que envolve; palavra que conforta; silêncio que respeita; alegria que contagia; lágrima que corre; olhar que acaricia; desejo que sacia; amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Lembro-me de você. Você... Eleger seu nome? Não. Prefiro não ser leviana. Tantas bagagens trago no apreço das lembranças. Madrugada silenciosa, vento frio, sereno, tomado pela fumaça do café fresquinho, recém passado. Divido com meu companheiro enternecido – meu caderno de boas lembranças. Descortinar este protagonista que me tornara tão viva, madura, faz-me levitar. Registrar o alvitre de um vagão que me atrai ao porto, lugar de partida e chegada de uma estada chamada coração.
As lembranças cintilam o olhar para o horizonte. Lembro-me da maneira como fui criada. O maior legado que me inspira todas as manhãs – meus pais. Eles me enriquecem com suas experiências. Suas vozes são músicas regidas pela sabedoria. Ao conversar ensinavam como se tornar vencedor. O norte para vencermos todos os embates, diziam eles, virá se amarmos a Deus sobre todas as coisas. Se acalentarmos este amor incondicional, grandes triunfos serão colhidos ao longo da vida. Na receita, não poderia faltar - a determinação, a perseverança, o altruísmos, imbatíveis nesta estrada íngreme e interessante. Eles me ensinam tanto a cada dia, e sempre acrescentam com seus ensinos, o segredo: – O nosso olhar deverá refletir a expressão do poeta - Sou pequenininho, mas sempre olho para os montes.
 O diálogo dos meus doces exemplos, aprazíveis como sempre, era trazido pelas suas experiências. Nunca ensinavam o que não viviam. O referencial de família, de casamento sólido, cheio de amor, corria nas minhas veias. Nunca poderia apartar da coerência de seus ensinos. Sou tão feliz por isto. Tão grata. Todos os dias os beijo, converso, peço conselho, compartilho e não deixo um só dia que seja - expressar o meu amor por eles. Não só com palavras. Mas com gestos que os façam compreender o meu reconhecimento incondicional.

                               
A nossa infância, adolescência fora adoçada pelo acolhimento.
A casa era cheia. Os amigos sempre foram bem recebidos. Como excelentes anfitriãs, os deixavam inteiramente à vontade. Eram momentos alegres e muito leves por sinal. Até hoje as pessoas lembram e perguntam pelos meus pais. Resultado: - Aprendi a receber amigos de meus filhos como filhos também. Apreciamos filmes com deliciosas pipocas. Dividimos momentos pelo sentimento agradável que alguma coisa faz nascer em nós. Nossa casa é lar. Aconchego é o seu nome.



No recôndito lugar de boas lembranças, os raios de sol se projetam para o alvorecer do dia. Eu e os meus três irmãos éramos despertados pela vitrola de meu pai – um aparelho de som usado para tocar discos de vinil, tinha amplificador e alto-falante, compondo uma só peça.  As vitrolas podiam ser grandes ou portáteis. Elas podiam caber dentro de uma maleta, já outras eram como móveis em casa tinham gavetinhas e tudo mais, parecendo inclusive um armário. A nossa era portátil. Aliás, não era nossa, fora emprestado por um amigo de meu pai, chamado Francisco. Meu pai nos acordava pela musicalidade. Louvores a Deus que adentravam em nossa mente com leveza e nos inspirava para o dia a dia.
Na hora do café da manhã, nossa mãe fazia aquele cuscuz cheiroso, ovos fritos deliciosos, aromatizado pelo café recém passado. Era momento de acolhimento e respeito. Provávamos o Pão – A Palavra de Deus era lida naquele momento. Aquela Palavra preparava a nossa mente para a vida. Depois meu pai orava a Deus. A Oração mais doce, a mais sublime que ouvíamos, a qual reconhecia a nobreza do nosso Pai do Céu que estava conosco naquele momento. Agradecíamos pela vida, pela noite de paz, pelo novo dia e pelo pão a mesa que nunca faltava.
As lembranças que trago no meu peito, são indescritíveis, Translúcida memória, ligação da última nota de um compasso vital Prezo nesta jornada o que há de melhor. Afago nas bagagens do meu pensar, você que compõem a minha história com notas de um canto agradável.

No trilho da vida viajo todos os dias. Oh estação que me abriga. Lugar de partida e de chegada, época em que se faz uma colheita, lugar de repouso, morada, estada, paragem. São vagões puxados pela locomotiva da vida. Neles levamos um pouco de nós registrados pelas pessoas apanhadas em cada estação.
Caminhamos ao vento, a sombra de uma árvore, às vezes, sob o sol ardente, tomados no cair da noite pela brisa fria do luar. Quicar nas ruelas desta vida, sorrir para o passado, agradecida pelo frescor das lembranças que me fizeram tão feliz.


E como diria o saudoso Mário Quintana:

“- A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa... Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará."

   














segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O QUE É AMAR ALGUEM?

Texto de
Niécio Rocha Jr.






A Bíblia nos fala que Deus é amor e que Ele nos ama. Mas neste momento estou falando do amor entre homem e mulher. O idioma português se utiliza de apenas uma palavra "amor", não diferenciando o amor de Deus do amor entre homem e mulher ou do amor fraterno. Os gregos, embora não conseguissem alcançar a essência do amor (quem conseguiu? Na minha humilde opinião só um, Jesus Cristo), conseguiram diferenciar em palavras diferentes os tipos de amor. Para eles existia 1) o amor ágape, o amor supremo, incondicional, que está acima das demais emoções e que reflete o amor de Deus, aquele que trancende qualquer outro sentimento; 2) o amor philos, donde vem a palavra filosofia, filantropo e por aí vai, que reflete o amor pelo próximo, mas sem desejo, um amor fraterno que se assemelha mais ao amor de irmão. Jesus, em sua síntese dos principais mandamentos, utilizou os dois termos para falar que todos os mandamentos se resumem a dois: amar a Deus sobre todas as coisas (ágape) e ao nosso próximo como a nós mesmos (philos).
Mas estou aqui falando de um outro tipo de amor o eros, donde vem o termo em português "erótico", que muitas vezes é confundido com pornográfico, mas não é. É o amor entre homem e mulher, aquele que faz nosso corpo ferver, que acende uma chama chamada paixão (o termo paixão, no original, também tem a ver com "chama").
Esse amor que nos faz perder o fôlego, a fala, nos deixa desconcertados, deixa o mais "desenrolado" tímido. Faz homens barbados se sentirem como crianças e o mais inteligente se sentir idiota. Nos deixam abestalhados. E como é gostoso isso.
É algo que todos sentem (é, como diz o ditado, até os brutos... e os birutos). Mas para explicar... Aí é complicado. Alguns podem dizer que é algo que não se explica, apenas se sente. O poeta diria que amar é verbo intransitivo. Não precisa de complemento. Apenas se sente e basta. Quem leu as últimas duas frases e teve a oportunidade de ler mais de um texto meu, vai perceber que repito muito isso, já está ficando cansativo. Perdão, mas foi necessário.
O fato é que o amor ou o amar é algo difícil de explicar. Ainda mais difícil é saber quando se ama. Nós nos relacionamos com várias pessoas. Algumas pessoas nem precisam se relacionar tanto e já se encontram na primeira ou segunda pessoa aquela que parece foi feita para si.
Particularmente lembro-me de meus amores de adolescentes e como eu pensava que eles eram para a vida inteira. Quando tinha uma decepção amorosa, achava que não ia me recuperar nunca.
Como saber que se ama alguém? Como ter a certeza de que o sentimento é amor e não apenas uma chama, uma paixão, algo passageiro? Como estar com alguém e sentir que é para sempre?

Procurei muito e vendo um filme bem piegas encontrei uma música do Bryan Adams, muito boa, que me deu vários exemplos de como "identificar", se é que é possível. Antes da música, o filme que vi foi Dom Juan de Marco, com Jonny Depp (não me crucifique... um sábado sem fazer nada em casa leva a coisas como essa. Logo após o filme, como todo macho reprodutor alpha que se preze, vi um jogo de futebol regado a emoções masculinas e palavrões). Brincadeira. Ainda me considero um cara romântico. Quiçá o penúltimo dos litorais desse oceano atlântico, já que o último é o Lulu Santos...
Seguem alguns trechos da música Bryan Adams me deu uma bela lição (traduzidos para o português):
Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la, Você precisa conhecê-la profundamente


por dentro, Ouvir cada pensamento, ver cada
sonho E dar-lhe asas quando ela quiser
voar.  Então, quando você se achar
repousando  Desamparado nos braços delaVocê saberá que realmente ama uma mulher...
Para realmente amar uma mulher, deixe-a segurar você.  Até que você saiba como ela precisa ser tocada,     Você precisa respirá-la, realmente,   saboreá-la,    Até que você possa  senti-la  em  seu  sangue.  E quando você puder ver, seus filhos que ainda não nasceram dentro dos olhos dela ,   Você saberá que realmente ama uma mulher...
No final da música, ele pergunta: Então me diga, você realmente, realmente já amou uma mulher?